UTAX - CRÓNICA DE UMA PROVA NÃO ACABADA

A verdade é que não me apercebi para o que ia. Comecei de noite a correr, passei o dia cinzento a correr e acabei de correr já noite. Correr que é como quem diz...
A coisa correu mal logo na viagem para a Lousã. Perdi-me, ou melhor, não encontrei o caminho certo e fui dar uma volta muito maior. Com mais de duas horas de atraso em relação ao que eu tinha previsto, lá cheguei à pousada da Juventude da Lousã para levantar o meu dorsal e mostrar o equipamento obrigatório. Depois fui procurar algum sítio para comer, os restaurantes já estavam fechado, mas lá consegui encostar-me ao balcão de um café e comer uma tosta de atum, pedi outra de ovo para ser o pequeno almoço.
Aquela hora já não fui para o solo duro e optei por descansar, as poucas horas que faltavam, no carro.
Seis horas da manhã e lá parti na cauda do pelotão para enfrentar os 82Km do UTAX. Frontais ligados e enfrentar o frio e a chuva que não nos largou o dia todo e o sol só assomou por breves instantes. Quando o dia começou a clarear tínhamos para enfrentar uma levada perigosa, se houvesse uma queda a coisa não ia ficar pelos arranhões.
Primeiro abastecimento, por volta dos 7,5 Km e eu com 1h30 de prova. A fazer uma média de 5Km/h. Segundo abastecimento, 4h de prova, muitas subidas, muitas descidas e pouca corrida. No segundo abastecimento já me tinha apercebido de uma coisa: este percurso é espectacular mas não é para correr. E foi o que eu não gostei na prova: correr fácil ou duro foram poucas vezes, não é esta a ideia que tenho de trail running, mas pronto, as paisagens, os próprios trilhos muito técnicos eram de uma beleza enorme, pena era que a chuva, o vento e o nevoeiro não deixavam ver toda a beleza daquelas serras.
Por esta altura, com frio, chuva e vento, sem possibilidade de aquecer a correr, tinha tomado mentalmente a decisão de não voltar a fazer esta prova, como disse, a minha noção de correr por trilhos, ainda que seja uma corrida dura, não é subir serra e descer serra, onde a corrida propriamente dita é pouca para um tipo como eu, poderia chamar aquilo prova aventura ou outra coisa qualquer, mas trail running... O que poderiam fazer: manter a altimetria e esticar a prova até aos 100 Km, porque o que achei mal foram as sucessivas paredes, quer a subir quer a descer, e poucos trilhos para correr. Claro que estou a dar uma opinião, e para um tipo como eu, com a minha capacidade física, estas paredes não me deixaram correr muito, e foi este o ponto que não gostei na prova. É a minha opinião fortemente influenciada pelo frio e pelas condições climatéricas que enfrentava, nem sei e num dia ameno ria pensar a mesma coisa.
Voltemos à corrida. Cheguei ao 3º posto de abastecimento já com 6h30 de corrida, comi o que havia, enchi  o o reservatório de água, enviei a sms do costume a dar o ponto da situação e a fazer a previsão de "2h e estou aí". O sol apareceu por esta altura, infelizmente por pouco tempo. Pus-me a caminho e uma pequena conversa com um companheiro, mais confiante que me dizia que só iríamos precisar de 1h30 para chegar ao próximo abastecimento. As minhas previsões é que estavam certas.
Percurso igual, subidas que só conseguia enfrentar a andar e descidas que eram mais na base do sku. Gostei e diverti-me bastante, apesar de cheio de lama, molhado e com frio.
Cheguei ao abastecimento principal, onde esperava encontrar a Ana e uma canja quentinha. A recepção da Ana aqueceu-me a alma, mas a sopa para me aquecer o estômago é que já não tive direito, atrasei-me, no entanto ainda a tempo de um chá e de uma sandes de presunto que me soube a pouco.
Ia mais de três horas à frente do fecho do percurso, tranquilo.
Aqui poderíamos trocar de roupa. A organização tinha feito chegar uns sacos com roupa seca para quem quisesse. Eu não troquei de roupa, foi um erro táctico. Porque não troquei?
Não tenho o melhor equipamento para estas condições de prova, nem sequer o equipamento essencial. Tenho o equipamento possível que vou tentado melhorar, experimentar e aprumar de corrida para corrida. No meio destas experiências de melhoramento, há as que são completamente falhadas. Foi o caso do reservatório de água, tipo camelbak, que levei. Não é prático e eu já o sabia, mas na prova confirmei que além de não ser prático não é eficaz. Depois de São Mamede, e pelas feridas que a mochila me deixou, percebi que tinha de adquirir uma mochila nova, claro que adquirir uma mochila "daquelas" não é para já opção, e por isso adquiri uma mochila extended 0-11 da quechua, que experimentei e treinei convenientemente, uma clara evolução no meu equipamento. No entanto não tinha adaptação para levar bidons na alça da frente da mochila. São mais práticos nos abastecimentos, úteis na distribuição do peso da mochila, e eficazes em termos de hidratação e controlo da reserva.
No que se refere à roupa de corrida, eu tenho a básica e claramente insuficiente para passar tanto tempo sob aquelas condições.
Acho que mesmo que trocasse de roupa, pouco tempo depois estaria nas mesmas condições, pelo que não me adiantaria de muito.
(Continua...)

Comentários

  1. Respostas
    1. Joaquim, admirei-me não o ter visto por lá...
      Mas com as maratonas do Porto e Lisboa tão perto, não é?
      Abraço.

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  2. Aguenta-te sempre Ricardo, focas alguns aspectos que davam pano para mangas, venha o resto do relato que está 5 estrelas.
    Abraço.
    António Almeida

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    1. E quais são os aspectos?
      Se calhar até era bom falar mais um pouco nisso, para aprendermos.
      Abraço.

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  3. Fico a espera da segunda parte! Estou a gostar muito!

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    1. Apesar de algumas contrariedades eu também ia a gostar muito.
      Abraço.

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  4. És um excelente contador de estórias.
    Anseio pelo resto do relato!!
    E perdeste te pelo caminho... já é natural em ti.. creio que serve para aventura ser ainda mais uma aventura ( engraçada!)
    459*ac

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    1. Tem dias AC,
      Às vezes perder pode tornar-se engraçado, mas na altura dispensava...
      Beijos.

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