Ultra-Trail Aldeias do Xisto

"De repente, fugir tornou-se uma dignidade. Já ninguém aguenta uma derrota. A persistência; a determinação e, sobretudo, a bendita paciência são hoje qualidades desprezíveis. Aguentar e esperar pela próxima oportunidade consideram-se teimosias gananciosas; arrogâncias; estupidezes."
Miguel Esteves Cardoso

Desta vez consegui terminar o UTAX. O ano passado tinha ficado aquele gosto amargado de ter abandonado aos 60 e poucos quilómetros com as pernas a dizerem-me que tinha a possibilidade de fazerem outros 60, mas o corpo fresco demais para as acompanhar: gelado com a chuva, o frio e o vento que se fez sentir naquele dia. A presença este ano na partida deveu-se a isso, a Serra da Lousã tinha-me vencido e eu queria a desforra. As coisas nem sempre são como nós queremos e para esta desforra não me apresentei na melhor forma, por isso ia nervoso e pouco confiante. Confiança que surgiu quando disseram que o percurso tinha sido reduzido uma dúzia de quilómetros, devido ao mau tempo, e porque me parecia que apesar da chuva que caía a cântaros, o frio não se iria fazer sentir. O que eu queria mesmo era que não se conjugasse frio com chuva.
A prova correu num ambiente lindíssimo, com trilhos espectaculares e por aldeias paradas no tempo. Trilhos que recordava do ano passado. Fui-me sentido sempre bem, sempre cauteloso porque sabia da minha preparação, sempre a ouvir os sinais do corpo. Desde cedo percebi que estes trilhos estavam marcado assim para o deficiente, passada meia hora e já estavam quase todos perdidos... Não me recordo de no ano passado ter tido problemas com a marcação, pelo menos não como este ano. A marcação estava muito mal feita, e se algumas fitas não se viam devido ao mau tempo que se fez sentir de véspera, não é justificação para tudo. Se o observatório da corrida ainda fizesse inquéritos, daria uma rotunda negativa a este item.
Negativo foram também os abastecimentos, nem quero comentar.
E no fim da corrida: banhos frios?
Houve realmente muitas falhas a assinalar que não são desculpáveis tendo em atenção o preço que pagamos de inscrição e comparando-o com outras provas. Parece-me que o que mais falta à organização é terem alguns corredores a pensar estas coisas.
Só mais um apontamento no que toca à entrega dos dorsais: é ridículo. Mostrar a mochila o dia antes? Eu até podia mostrar uma que não fosse usar na corrida. E se calhar houve quem tenha feito isso. No dia da corrida, durante a corrida, nenhum controlo.
Cortar a meta foi por demais espectacular.  Bem-haja Anchulá, Margarida e Filipe.
Fico agora à espera do prémio finisher...

Comentários

  1. Parabéns pela desforra ganha. Mais uma serra "conquistada".
    Abraço e boa recuperação

    P.S. Qual é a próxima?

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    1. Bem-haja. A próxima está ainda por pensar, mas só para o ano. Talvez uma maratona de estrada.
      Boa maratona do Porto.

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  2. Parabéns Ricardo, voltaste para a desforra e levas-te a melhor, saboreia a conquista.
    Quanto ao resto penso que há muita culpa por parte dos que participam, tenho reparado que nas tuas crónicas apontas muitas vezes o que correu menos bem (e na minha opinião acho que fazes muito bem e tens esse direito) mas em geralm só vejo elogios mesmo quando as coisas correm mal.
    Uma maratona de estrada para o ano, sim, sim...
    Aguenta-te sempre.
    Abraço da família

    António e "Princesas"

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    1. António,
      Eu percebo que haja certos acontecimentos que fogem do controlo das organizações, mas há situações que não se percebem e que começam a deixar de terem desculpas, porque há erros que se repetem de um ano para o outro.
      Abraço para a família toda.

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  3. No final fica o sentimento de "dever" cumprido.

    Grande Abraço (que saudades eu tenho)

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    1. Brito,
      No final, mesmo no final, parece que tudo foi muito rápido e que "já acabou?", mas lá pelo meio a meta parece estar muito distante e que nunca mais lá chegamos. Por vezes assalta o pensamento: mas porque é que eu me meto nisto!
      Não perder a fé, a confiança e o crer chegar, penso que serão alguns dos motivos que nos faz seguir em frente, um pé diante do outro. Por mais difícil que possa parecer, ao continuar a dar mais um passo estamos mais perto da meta. São estas "filosofias baratas" que no fim fazem sentido, mas durante o esforço soam ocas.
      Aguenta-te sempre!

      Um grande abraço,

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