03 TRILHOS DO ALMOUROL

"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê." Platão
A táctica para atacar estes trilhos era a seguinte: Nunca forçar o andamento e nas subidas com mais inclinação "pôr a passo". Havia também a intenção de ir sempre acompanhado para não me perder.
Apesar de a prova estar marcada de forma irrepreensível, sei que me perco facilmente por causa do deslumbre. Se consigo perder-me a correr por trilhos que conheço bem e que passo por eles em vários treinos (isto não é para todos) com mais facilidade me perco em trilhos desconhecidos. A verdade é que me distraio com a paisagem, com um amontoado de pedras onde visualiso obras de arte majestosas, com um coelho que passa ao fundo (e com coelhos tenho uma história muito engraçada e curiosa para contar), com o barulho de um ribeiro a correr e um esquilo que pára para me ver passar (aplaudir-me, imagino eu), enfim, a minha atenção dispersa-se e deixo de estar concentrado no caminho para onde vou.
E foi sempre isto que procurei fazer: seguir os companheiros e acima de tudo, nunca forçar o andamento. Os primeiros 40 minutos foram muito lentos, trilhos que não davam para ultrapassagens, muitos atletas no trilho e era inevitável andar mesmo em sítios que normalmente não seria necessário, mas com maior ou menor lentidão lá chegamos à barragem de Castelo de Bode para o primeiro abastecimento e a grande surpresa: a minha equipa de apoio estava lá à minha espera e no segundo abastecimento e no Castelo de Almourol e no abastecimento de Tancos. Este apoio é melhor que todas as barras energéticas que poderia ingerir.
Foto de Lina Branco Batista
A corrida lá se fez, passamos a ponte militar sobre o Nabão, dei um trailho, fui ao Castelo, corri, andei, senti-me livre, feliz e cheguei ao fim com pena da corrida ter acabado, mas com enorme alegria.
Pouco depois do último abastecimento forcei o andamento, estava com energia suficiente e "vamos testar a minha forma". O muro, nesta maratona trail nunca apareceu, o que me faz pensar que os treinos têm sido bons.
Ainda tive tempo de andar uns metros perdidos (estava sozinho...) e depois entrar no pavilhão e ficar desconfiado: "Já nos balneários? Será que eu passei a meta e nem sequer notei?" Mas não, a meta estava mesmo dentro do pavilhão. Passo o pórtico, 5h07m oferecem-me uma lembrança de finisher e procuro as minhas Tágides para oferecer as flores que tive tempo de apanhar nos últimos quilómetros. Fantástico.
Agora vou começar a correr para os 100Km da Serra de S. Mamede. Sei o que vou ter de fazer, haja pernas para isso.
Até lá, bons trilhos.

Comentários

  1. Adorei a descrição romântica...
    Atrevo-me a dizer que para ti correr é poesia... envolvida em magia.
    A nivel fisico , estás muito bem e treinas assiduamente, era previsivel que a prova fosse feita sem grandes dificuldades.
    Bons treinos*
    AC

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    1. Olá AC,
      Para mim correr é místico, tem qualquer coisa de físico, mas acima de tudo é mágico, poético, mental e espiritual.
      Experimenta fazer uma maratona, ou uma ultra e vais perceber o que eu quero dizer.

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  2. Ricardo

    Essa dos balneários fez-me sorrir pois pensei o mesmo: «Será que me enganei e vou direto para o banho?»

    Uma bela prova e embora também me tenha perdido uma vez, "perco-me a ver as maravilhas da natureza". E há 3ª foi de vez, a nossa passagem pelo interior do Castelo. Uma maravilha.

    Agora vem mais um desafio, os 100 km da UTSM. Eu não me meto nessas 'loucuras', desejo-te uma boa prova e que te divirtas.


    ... E se um esquilo houver pelo caminho, vai de mansinho, não vá o esquilo acordar!

    Grande Abraço!

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    1. Olá Mário,
      A prova é muito boa, muito bem organizada e muito apetecível: para o ano tentarei estar de novo presente.
      Os 100km é aquela loucura controlada: se treinar bem, não é assim tão louco. Vamos lá ver... tenho 24h para chegar ao fim.
      Este ano, salvo erro da memória, ainda não vi nenhum esquilo, mas já vi duas rapozas e algumas dezenas de javalis, coelhos e aves de muitas espécies. Há uns anos atrás havia aqui pela serra da Estrela, no Alto do Livros, um casal de aves de rapina (águias, não sei de que espécie) que sempre me acompanhavam nas corridas que dava por ali, soltando aqueles gritos para me encorajar e incentivar. Agora já não as vejos por lá, não sei o que fizeram, emigraram talvez, devido à crise. E as Cegonhas?... Bem, isto dava pano para mangas... Mas a corrida pelas maravilhas da naturesa é divinal.
      Abraço e boas corridas.

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