(3) ULTRA-TRAIL DA SERRA DE SÃO MAMEDE

Do PAC9 informam que se tinham enganado e o dorsal X já tinha passado. Pelas minhas contas, mais 10-15 minutos e o Joaquim está ai. Boa. Vou até à meta que está mais um atleta a chegar com algumas dificuldades. Entretanto a Ana também chegou e digo-lhe como estão a correr as coisas: «O Joaquim deve estar a chegar.»  Vamos até à barraquinha dos cafés para beber mais um. Daqui vejo ao fundo mais um corredor a chegar. Reconheço.
«Força Joaquim, conseguiste!»
O corpo pende um pouco para o lado esquerdo. Não paro de o incentivar. Estou eu próprio contente e orgulhoso de conhecer este homem, paraquedista, que já ultrapassou os 60 anos de idade e pela primeira vez está neste desafio de correr os 100 Kms e logo nesta corrida de montanha dura que se farta. E vai conseguir.
Fui com ele, corri novamente os últimos 400 metros, não era suposto mas a emoção fez-me agir assim. Ia ao lado do Joaquim a fazer a festa, deitando os foguetes e apanhando as canas. O Joaquim ainda não estava consciente do que estava prestes a conseguir. Recta da meta, adianto-me um pouco para tirar uma foto com o telemóvel, que como era de noite não ficou muito bem. Aplausos, indico ao Joaquim a mesa das batatas fritas, para comer e se hidratar, aproveito para comer mais algumas, as massagens e os banhos, mas o que o Joaquim queria era ir deitar-se.
Grande Joaquim, novamente dirijo-lhe os meus parabéns. 
Vou à procura da Ana para irmos jantar, na companhia da Paula e da família Almeida, um jantar muito bom. Boa companhia e a comida estava excelente.
Depois voltamos para a meta, ainda queria ver o Melo chegar.
O Melo vinha com um pequeno problema no joelho e ainda não tinha chegado ao PAC9, estava na descida anterior.
Ainda vejo a chegada da Analice, grande atleta e mulher de fibra, deu para rir um pouco, depois do nervosismo que tinha sido os últimos 20 minutos.
Chego à conclusão que não vai ser possível esperar pelo Melo. Estou cansado, a Ana também está cansada, ainda temos uma viagem para fazer e compromissos para cumprir na manhã de domingo.
Lanço boas vibrações para o Melo, sei que ele vai conseguir. E conseguiu. Grande capacidade de sofrimento que aquele Mariense tem.
Inicio a viagem de regresso, pelo caminho vou recordando os momentos da prova.
A passagem por Alegrete, ainda de noite, mas que deu para perceber que é uma Freguesia muito bonita, ainda hei-de lá passar outro dia, com mais calma para olhar tudo muito bem e sentir a sua história.
A passagem pela barragem e pelo pescador que lá no meio flutuava no seu banco/barco.
Os cavalos lindos e a placa de boas vindas ao Gavião. Que bem que soube ler aquilo.
Foto de Isabel Almeida
A subida para o Castelo de Marvão, e quando pensava que era o assalto final, nova descida para recomeçar tudo de novo. O Castelo e a Vila, maravilhoso. O "pequeno-alto" com direito a namoro e tratamento VIP.
A simpatia das pessoas com quem me cruzei.
O ter conhecido o Zé Maria na descida de Marvão (antes só o conhecia pelos blogs).
O Bóris, cachorro ultra-maratonista que seguramente fez mais de 200Kms.
E tantas outras recordações que ficam na memória geral do UTSM e me fizeram chegar ao fim e dizer: Adorei!
Quanto à organização: não sou especialista para fazer análises, mas para mim estiveram bem. Voltava a repetir. Certamente que haverá aspectos a melhorar, deixo isso para os entendidos na matéria, eu só tenho de agradecer a oportunidade que me deram de poder fazer estes trilhos, o apoio e todo o trabalho que tiveram para "pôr de pé" este UTSM. Bem-haja.
Agradeço também a todas as pessoas com as quais me fui cruzando e me foram incentivando no caminho, em especial às simpáticas Isabel, Paula e Vitória. Bem-haja.
E à minha amiga Ana: fazes-me sentir importante. Bem-haja.
Agora continuo a recuperação, os joelhos ainda se queixam um pouquinho. Até me deu assim uma coisa para ir à Freita, mas se calhar este ano ainda não. Vou é começando a pensar na Lagoa de Óbidos à noite...
Mas até lá, bons trilhos e boas corridas.

Comentários

  1. Ricardo
    renovo os meus parabéns pela prova e por este excelente relato.
    Até um destes companheiro.
    Abraço e bjs da Vitória e Isabel.
    António

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  2. António,
    Certamente que agora nos encontraremos mais vezes.
    Um abraço e beijos para a Vitória e a Isabel.

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  3. Obrigado Ricardo, nem sei como te agradecer não só nas referências que me fazes neste espectacular relato como também em plena pista a forma como me ajudaste, e uma revelação: Correste a meu lado desde a entrada da pista e até aos últimos 100 metros de prova incentivando-me sempre e eu não te reconheci, apenas te vi ali à chegada na meta, como me vou perdoar? Vinha de tal modo desiquilibrado que não deu sequer para olhar a cara de quem me acompanhava, no relato no meu Blogue faço mensão a um elemento da organização mas afinal eras tu, como te estou agradecido.
    Para ti vai novamente os meus parabéns pela grande resistência que demonstraste ao conseguir concluir aquilo num excelente tempo final e em boas condições físicas. Como vou à Freita com o Fernando Andrade (ainda está em reflexão) contava encontrar-te por lá, é pena deixares cair esta prova, aquilo é espectacular e sei que irias gostar imenso. De qualquer modo encontramo-nos em Óbidos. Abraço.

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    1. Amigo Joaquim,
      Realmente vinha um pouco desequilibrado, e se calhar até foi mais por vê-lo assim que me deu para ir a correr ao seu lado.
      Gostava mesmo de ir à Freita, mas tem de ficar para o ano. Ainda estou a recuperar da sova de Portalegre. Corridas lentas sem ainda ter ultrapassado a hora de corrida para, principalmente, os joelhos recuperarem totalmente.
      Grande abraço.

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  4. Ricardo

    E foi essa não colocação da passagem do Joaquim pelo k88 (quando tinha pouco antes ligado para ele pelo telemóvel) que me fez supor que o Joaquim teria desistido. Olhava e nada, não atualizavam e assim ficou até ao dia seguinte. Felizmente quando escrevia no meu 'face' o Paulo Pires confirmou-me que afinal o Joaquim tinha terminado a prova. Todo 'empenado' mas terminou. Bravo Joaquim!

    Conheço Marvão e o tal castelo que, segundo diz um meu amigo alentejano que mora em Portalegre, se vê as águias pelas costas, sinal de altitude do mesmo.

    Vi essas escarpas do alto desse castelo, nunca imaginei que um dia, companheiros meus, as iriam subir, descer e voltar a subir.

    Vocês foram mais que águias, subiram para além dos limites das mesmas.

    Parabéns!

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    1. Mário,
      Essa parte da espera foi a pior parte, mas tudo correu bem. No pac9 não colocaram o tempo no sítio certo.
      Aquilo é lá mesmo no cimo... Quando via o Castelo ao longe pensava: vou ter que subir aquilo tudo... E depois subimos duas vezes, para fortalecer as pernas.
      Mas foi giro e eu gostei, pior até foi depois lá pela calçada medieval, os meu joelhos ainda se lembram.
      Abraço.

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  5. Ricardo,

    Depois dos parabéns pela magnífica prova, quero felicitar-te pelo emocionante relato e pela sensibilidade que demonstras, muito especialmente no apoio aos amigos da corrida.

    abraço
    MPaiva

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    1. Olá Miguel,
      Bem-haja pelas tuas palavras.
      Quando é que te apanho numa destas?
      Abraço

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  6. Parabens pela tua excelente prova,e pelas palavras de incentivo,o pequeno problema no joelho passou a ser mais grave mas la consegui,2 meses praticamente parado a fazer fisioterapia e treino especifico mas ja estou de volta aos treinos e a pensar num proximo objectivo.ate ao proximo desafio companheiro.
    Abraço : Otavio Melo

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    1. Melo,
      Ainda estás a pensar ou já tens alguma coisa em mente?
      Vamos a ver como vou conseguir gerir tempo a partir de agora e só depois é que posso pensar em qualquer coisa.
      Mas os 160 Km na Serra de Estrela encantam-me...
      Abraço.

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  7. Boas Baptista,realmente as 100milhas da Serra da Estrela sao uma tentaçao,tambem estou muito virado para finalmente fazer a travessia da Madeira no MIUT,irei fazer a candidatura para o CCC e conforme o sorteio planear o resto da epoca,abraco.

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